Rafael Almeida

Como os holandeses conseguiram suas ciclovias?

Como sempre, faz tempo que não escrevo, mas com o aumento de construção das ciclovias em São Paulo e a discussão gerada pela insatisfação de parte da sociedade, resolvi escrever um pouco sobre isso, para quem sabe, conseguir mostrar pra algumas pessoas, que a nossa situação é bem parecida com a dos holandeses quando conseguiram suas ciclovias.

Esse texto vai ser uma resenha sobre o vídeo How the Dutch got their cycle paths ou em português, “Como os holandeses conseguiram suas ciclovias”. Portanto, recomendo que assista o vídeo antes. Os trechos cidados abaixo, são todos do documentário em questão.

A Holanda possui o maior número de ciclistas no mundo, mas é também o lugar mais seguro no mundo para pedalar. É o maior por causa da perfeição na infraestrutura, que pode ser encontrada em todo o país. Como os holandeses obtiveram esta cadeia de ciclovias de alta qualidade? How the Dutch got their cycle paths

Mas como os holandeses conseguiram suas ciclovias?

Na Holanda, diferentemente do Brasil, desde muito tempo se investe em ciclovias, no início, não eram as ideais, mas como as bicicletas eram maioria, isso não era muito importante:

Estreitas, superfície irregular, perigosas ou até mesmo ausentes no cruzamentos e desconectadas. E ciclovias não eram realmente necessárias, ciclistas eram maioria comparado aos outros usuários.

Acontece que depois da Segunda guerra, a Holanda ficou muito rica, ao mesmo tempo que teve que ser reconstruída.

De 1948 a 1960 a renda média cresceu 44% e em 1970 havia aumentado em mais 222%.

E isso levou a uma falha de planejamento, nesse período grande parte do investimento foi em vias para os carros, com isso, até ciclovias foram removidas para dar mais espaço para “o futuro”. Com isso, a Holanda foi perdendo ciclistas e se tornando mais violenta para todos que estavam fora de um carro.

Pedalar foi marginalizado, diminuindo em 6% todo ano e 3,300 vidas foram perdidas em 1971 apenas. Mais de 400 destas mortes foram de crianças com menos de 14 anos.

Até que a Holanda parou, em 1973, a primeira crise do petróleo, fez com que as bombas de combustíveis ficassem secas, e a Holanda teve que fazer alguma coisa.

O então Primeiro Ministro disse para as pessoas da Holanda, que esta crise era a vida mudando. Que eles deveriam mudar seus modos e serem menos dependentes de energia. E que isso era possível sem diminuir a qualidade de vida. Políticas para encorajar o ciclismo encaixavam perfeitamente naquele cenário. Os domingos sem carro para economizar petróleo foram para lembrar as pessoas de como a cidade se parecia sem carros. Por volta desta época, os primeiros centros das cidades se tornaram livres de carros, permanentemente.

As primeiras ciclovias foram construídas em Haia e Tilburg e em pouco tempo:

Pedalar aumentou de uma forma espetacular. Em Haia de 30 a 60% e em Tilburg em 75%. “Construa e eles virão” provou ser verdade na Holanda.

E hoje a Holanda se tornou, como dissemos lá no início, “possui o maior número de ciclistas no mundo, mas é também o lugar mais seguro no mundo para pedalar”.

Resumindo, o que causou as mudanças na Holanda foi:

No Brasil

No Brasil sempre investimos em transporte motorizado, cada vez mais dinheiro é colocado nas estradas e subsídios aos carros, e cada vez mais, o transito piora.

Nos últimos anos, com o crescimento da renda per capta no Brasil, a frota de carros e motos aumentou quase 400% em dez anos !!!

Com isso o número de acidentes de transito também vem crescendo ano a ano:

Evolução dos acidentes fatais fonte:· vias-seguras

Isso nos leva de volta as ciclovias, será que as condições atuais são muito diferentes das condições existentes da Holanda em 1970?

Antes que alguém venha dizer, não acho que investir somente em ciclovias vai resolver o problema. Mas tenho certeza que o carro ocupa em nossa cidade mais espaço do que deveria.

Lembrando que sou motorista já que atualmente trabalho muito longe de casa.

Só espero que essas ciclovias ajudem a salvar vidas que são perdidas todos os anos. Espero que meu irmão e meus colegas, que estão todos os dias nas ruas tenham cada vez mais o seu espaço reservado. E a única forma de fazer isso, é diminuindo o espaço de quem usa mais do que deveria; Assim como eu.