Eu não poderia deixar passar o aniversário da cidade de São Paulo sem um post. A minha relação com São Paulo é uma relação de amor e ódio. Amor na maioria das vezes, e ódio quando tenho que aguentar a classe média paulistana com seu preconceito. Para exemplificar as situações que se tornam cada vez mais corriqueiras em São Paulo, vou contar dois fatos que presenciei hoje.
Tudo começou quando resolvi ir almoçar no restaurante japonês. Sou assinante do jornal Brasil de Fato, a capa da edição dessa semana era “‘Rolezinhos’ revelam apartheid social” (a versão online não está mais disponível) e eu ainda não tinha tido tempo de ler, então levei para ler durante o almoço.
Sentei na primeira mesa, bem perto da porta, ao meu lado tinha uma família, papai, mamãe, filhinha e vovó. Julia, a criança, era uma menina de uns 4 anos no máximo, muito alegre e cheia de energia, não parava ajudava os garçons a limpar as mesas, corria e cantava.
Quando terminei de ler a primeira matéria, não sei se por que viram a capa do meu jornal ou se por coincidência, ouvi o seguinte diálogo.
Eu discordo da posição dos dois, já que vários Rolezinhos terminaram sem queixas de furto, ou saque, como reclamava a avó. Mas isso não vem ao caso porque a situação fica mais interessante quando o pai propõem a solução para os rolezinhos.
É um ‘Jenio’ ou não é? Fica clara a intenção de excluir quem não tem condições de pagar a taxa para sorrir.
A comida começou a me fazer mal, a fome passou e a ânsia tomou conta de mim, mas a senhora ainda me reservava mais:
Agora isso é um problema? Achei que era bom todos terem acesso a tecnologia, mas não, não é possível, a minha empregada tem um celular melhor do que o meu? Primeiro tiveram direito a voto, dai lotaram as rodoviárias, depois os aeroportos, hoje eles querem tudo.
Aí foi muito pra mim, levantei e saí pensando o que será da pobre Julia, em breve a linda menina será outra jovem de classe média querendo matar os nordestinos.
Saí do restaurante transtornado mas ainda tinha que comprar um carregador para o meu celular, espero que a vovó não descubra que eu tenho um celular, então fui ao shopping que tem ao lado.
Quando entrei no shopping, saí de frente com o cinema, fazia tempo que não via um filme, Gravidade ainda estava em cartaz, decidi assistir. Comprei o ingresso e continuei, sem êxito, procurando pelo carregador.
Faltando dez minutos para começar o filme fui pra fila. Logo atras de mim chegou um casal de uns vinte e poucos anos. E advinha? Conversavam sobre rolezinhos.
Os dois deram risada e mudaram de assunto.
Cheguei na sala e advinha? O lugar deles era ao lado do meu!
Pouco tempo depois, dois rapazes começaram a tirar fotos juntos, era um casal de namorados. Então ele, começou a falar baixinho:
Os dois riram.
Os dois riam mais.
Acho que não preciso falar muito, esse tipo de coisa não precisa de conclusão, o fato é que isso me irrita em São Paulo, uma cidade maravilhosa, mas que aos poucos vai se tornando mais fria e violenta.
Sei que já falei dessa música um milhão de vezes, mas não poderia terminar sem recomendar novamente.
E Para concluir, queria lembrar um trecho de uma música que cai como uma luva para mim que enquanto acontecia uma manifestação contra a Copa, estava no cinema:
De boas ideias o mundo já está cheio Só está faltando é duplicaação Participaação, partir pra ação Sós continuando cantando caindo no abismo da contradição Na teoria se tem garantia de todas as suas convicções Mas já na pratica do dia dia isso não se reflete nas suas ações Praticamente tenho garantia ninguém nem reflete no dia-a-dia E o reflexo do dia a dia não se reflete na teoria E quem teoriza suas reflexões não compartilha suas confusões Você ainda nem tem suas convicções?